Do futuro da liderança à liderança do futuro: mais três tendências para 2024

Descubra como a liderança está se adaptando a um cenário corporativo em constante mudança. Entenda melhor essas transformações e como elas impactarão as estratégias de liderança no próximo ano.

Sabe por que é difícil definir liderança? Porque o papel do líder muda conforme o desafio. Cada vez que o cenário corporativo se reconfigura, o horizonte da gestão se transforma em um novo jogo, com novas regras, novos participantes. Do primeiro apito da Revolução Industrial à última atualização do ChatGPT, sempre foi assim. No apagar das luzes de 2023, resta saber qual tabuleiro vai estrear depois de dezembro. Nesse artigo, vamos explorar três tendências para 2024 e compartilhar os insights do CNEX sobre quais jogadas podem estar por vir. Vamos lá?

1. Vantagem fractal

Escala é uma métrica de sucesso. Uma, não a única. Cada vez mais, multinacionais de renome perdem espaço para iniciativas menores como startups e empreendimentos locais. Não por acaso. No passado, estruturas hierárquicas rígidas foram garantia de eficiência. No presente, a solução virou obstáculo. Houve uma mudança radical no horizonte competitivo. Circunstâncias geopolíticas, tecnológicas e sociais fragmentaram os mercados, criando nichos a partir de especificidades regionais. Como desdobramento, a expectativa do público consumidor passou a ser de customização e agilidade, de adaptação rápida da oferta à demanda. Nesse contexto, a dinâmica comando-controle das organizações tradicionais revelou cobrar um preço alto demais: tempo.

A lógica é simples. O que anda mais rápido? Um caminhão-cegonha ou uma frota com o mesmo número de carros? Para se manter na corrida pelos próximos anos, as empresas terão que repensar suas práticas de gestão, operar menos no modelo top-down e buscar o que o Boston Consulting Group chama de vantagem fractal. Na Matemática, fractais são formas geométricas compostas por cópias menores de si mesmas. No mundo corporativo, a metáfora do BCG se refere a três movimentos estratégicos: descentralização das tomadas de decisão; compartilhamento de informações entre unidades de negócio; e encurtamento dos ciclos de desenvolvimento de produtos.

Na prática, organizações fractais tiram os holofotes das salas de reunião para dar autonomia às equipes que estão cara a cara com o usuário. Uma vez interconectados, esses mesmos profissionais dividem aprendizados em tempo real, com toda a rede, direto do front. Não tarda, o acúmulo progressivo de conhecimento possibilita a criação de respostas rápidas às demandas do mercado. As vantagens são muitas. O desafio, um só: se tornar fractal é, primeiro, uma transformação cultural. Nesse sentido, caberá às lideranças não apenas questionar o engessamento provocado pelos modelos tradicionais de gestão, mas também semear, em toda a equipe, um novo senso de responsabilidade sobre a construção coletiva de resultados.  

2. Abertura à incerteza

Basta olhar pelo retrovisor. Não é necessário voltar muitos anos no passado para encontrar práticas de mercado hoje entendidas como equivocadas, antiéticas ou inadmissíveis. O convívio com profissionais de ESG e Compliance é prova: o tempo passa, os valores mudam e as organizações precisam dançar conforme a música. Temas como diversidade, sustentabilidade e segurança psicológica são mais importantes do que nunca. É inegável que houve progresso. Ao mesmo tempo, assuntos como a emergência das inteligências artificiais generativas, a reconfiguração dos espaços de trabalho e a composição de equipes multigeracionais são questões que agora invadem o presente. Nesse sentido, será que o futuro não guarda novas conversas difíceis?

Seria muita inocência acreditar que o debate sobre o que é certo ou errado chegou ao fim na nossa vez de tomar as decisões. A cada instante, o desenvolvimento tecnológico cria novas possibilidades e modifica as relações de custo-benefício. Mudanças graduais, quase imperceptíveis no primeiro momento, são tão prováveis quanto viradas bruscas de chave. De certo, só o incerto: o mundo corporativo não vai se tornar menos complexo e o mapa do que está sendo construído não está nos manuais. Respira. Sob esse pano de fundo, a atitude das lideranças em relação ao futuro é o verdadeiro xis da questão.

É evidente que pensar sobre o amanhã pode causar tensão. Pode. Mas precisa? Segundo o professor John Danaher, da Universidade de Galway (Irlanda), há uma forma mais leve de lidar com os dilemas que estão por vir: manter a mente aberta para o sim e para o não. Por mais que os movimentos do mercado demandem reflexos rápidos, nenhum player é obrigado a aderir ou rechaçar qualquer mudança antes dela acontecer. É possível olhar para o futuro pela lente da curiosidade, da descoberta, do aprendizado. Lideranças capazes de adotar essa postura estarão à frente na corrida da inovação. Não pela certeza do caminho, mas por apostarem na experimentação.

3. Engajamento one-on-one

Parece óbvio afirmar que a pandemia transformou como grande parte das organizações funciona, mas é fato: resolver os desafios revelados pelos novos modelos de trabalho não é uma tarefa banal. Mesmo às vésperas de 2024, muitas lideranças seguem não conseguindo contribuir com o dia a dia das equipes em atividade longe do escritório. Isso tem um preço. Do lado dos colaboradores, o desencontro vira falta. Falta de apoio, de segurança, de engajamento. E agora? Tomar de volta a flexibilidade do trabalho remoto? Tarde demais. Riscar nomes da folha de pagamento? Simplesmente injusto. É hora de assumir a responsabilidade. Quando a rede não funciona, o papel do líder é reconectar os nós.

É importante que as organizações reconheçam como a experiência de trabalho vivida por cada pessoa é única. Dito de outra forma, é improvável que medidas top-down contemplem as necessidades da maioria. Fazer a manutenção dos vínculos demanda atenção one-on-one. Em uma pesquisa recente, a McKinsey identificou seis arquétipos de colaboradores, abrangendo desde indivíduos insatisfeitos e desengajados até profissionais que desempenham seus papéis com excelência e influenciam positivamente seus pares. Segundo a consultoria, contudo, a maior parte dos entrevistados estava entre os extremos, representando níveis variados de performance e bem-estar.

O resultado do estudo sugere que, para gerar ganhos de satisfação e produtividade, as lideranças devem incentivar os profissionais mais engajados enquanto criam condições propícias para o crescimento dos outros membros do time. Tentar mudar a perspectiva de quem se perdeu na rotina é uma aposta, mas não existe caso perdido. Com transparência e diálogo, mesmo pequenos gestos como oferecer oportunidades de desenvolvimento ou flexibilizar entregas podem ser estímulos efetivos. Para além de reduzir custos e promover o empenho da equipe, ouvir é uma estratégia que forma líderes mais humanos.

Com a promessa de transformações corporativas intensas, o próximo ano tem tudo para cobrar movimento. A busca pela vantagem fractal destaca a necessidade de romper com estruturas hierárquicas rígidas, promovendo a descentralização em nome da agilidade. A abertura à incerteza ressalta a importância de líderes receptivos às mudanças tecnológicas, capazes de incentivar a curiosidade e a experimentação dentro das organizações. Já o engajamento one-on-one enfatiza a singularidade da experiência de cada colaborador, demandando lideranças humanas e abertas ao diálogo. A um passo de 2024, continua sendo papel do líder responder aos desafios. O que parece estar mudando são as suas ferramentas: do controle para a confiança, da previsão para o aprendizado, do distanciamento para a escuta.

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